Edição especial da revista Página 22, desenvolvida em parceria com o GVces, e seu lançamento marcaram o novo ciclo de atuação da Fundação Tide Setubal
Embora as desigualdades estejam presentes na vida de todos os brasileiros, o assunto raramente é pauta da cobertura jornalística, salvo em momentos específicos do ano, como na divulgação de novos estudos ou dados censitários. Isso faz com que o tema seja menos debatido pela sociedade em geral, tornando-o invisível ao poder público e, consequentemente, resultando em menos políticas de combate às desigualdades. Com o intuito de contribuir para a discussão sobre os desafios da equidade, firmando-se como fonte de referência para o tema, a Fundação Tide Setubal, em 2017, fez uma parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) para lançar uma edição especial da revista Página 22, inteiramente dedicada do tema.
“Essa parceria inaugura um novo modelo de atuação da revista Página 22, que chamamos de projetos especiais. O GVces é um centro de estudos, não uma editora, e Página 22 é um veículo a serviço de uma estratégia de comunicação e de diálogo do centro com uma causa maior”, diz Mario Monzoni, coordenador do GVces. “É possível trazer um novo olhar para as cidades, valorizando as periferias como celeiro de inovação a partir de sua imensa criatividade, forte relacionamento comunitário, enorme expressividade cultural e potencialidades, as mais heterogêneas possíveis. Motivo suficiente para figurar no topo das prioridades de políticas públicas.”
A edição, produzida pela equipe do GVces com participação da Fundação Tide Setubal na sugestão de pautas e apresentação de fontes e dados, levou a debate os seguintes tópicos: por que as periferias importam e merecem atenção de toda a sociedade? Como o gestor público deve formular políticas e tomar decisões levando em conta as disparidades socioespaciais? A publicação apresentou reportagens, entrevistas e artigos que revisitaram os conceitos de centro-periferia, mostraram a importância de olhar para a rica diversidade sociocultural dos territórios vulnerabilizados e como estes historicamente inspiram e alimentam os centros de poder econômico. Foram abordados fatores que influenciam e dificultam a tomada de decisão dos gestores públicos em relação a esses locais, desde a falta de indicadores organizados até as pressões políticas. A edição trouxe também caminhos propositivos, inspirados em exemplos locais e internacionais.
Leia gratuitamente a edição aqui.
Para celebrar o lançamento da edição especial da revista Página 22 e marcar o novo posicionamento da Fundação Tide Setubal, de fortalecimento de sua imagem institucional diante da nova missão, a Fundação, pelo segundo ano consecutivo, promoveu um debate com o objetivo de abordar questões como as desigualdades socioespaciais, o potencial desses territórios e os desafios para a criação e implementação de políticas públicas.
O seminário Periferias Urbanas: territórios de desafios e possibilidades no enfrentamento das desigualdades, realizado em junho em parceria com o GVces, na Fundação Getulio Vargas, trabalhou com a ideia de proporcionar uma leitura ao vivo da revista com um encontro entre diferentes vozes, a partir da periferia e de quem tem sua origem de vida nesses espaços. Em poucos dias de divulgação, o seminário contou com mais de 600 inscrições, e cerca de 270 pessoas compareceram ao evento. O público, bastante variado, foi composto por alunos de diferentes universidades, públicas e particulares, representantes de diversas secretarias municipais, profissionais de organizações do terceiro setor e coletivos de periferia.
Para trabalhar o tema junto à mídia, a Fundação Tide Setubal e a FGV realizaram um encontro pré-evento com jornalistas para que eles pudessem explorar questões relacionadas aos territórios, seus desafios e as possibilidades no enfrentamento das desigualdades. Compuseram a roda de conversa Maria Alice Setubal, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal; Amália Safatle, editora de Página 22; e Tony Marlon, jornalista e criador do Historiorama. Participaram do pré-evento jornalistas dos veículos El País, Rádio Vozes, Folha de S.Paulo, Agência Mural e revista Época. Todos aprovaram a iniciativa e a consideraram como uma boa oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre os territórios.
Após o encontro com a mídia, teve início o Seminário, com abertura de Paula Galeano, superintendente da Fundação Tide Setubal, sobre a nova missão da organização e o início de um novo ciclo com três eixos de atuação: territórios, conhecimento e ação macropolítica. “O trabalho desenvolvido em São Miguel Paulista sempre teve como premissa o olhar para os ativos e as potências da comunidade, buscando fazer com a comunidade e não para ela. A escuta constante nos apoiou na construção de vínculos fortes que geraram a construção de metodologias que levam em consideração a realidade local, nos guiando sempre pela perspectiva de que o território importa. Importa não apenas para as atividades ali desenvolvidas, mas também para a influência na formulação de políticas públicas que, se criadas e implementadas de forma universal, deixam de lado especificidades e necessidades do contexto local”, afirmou Paula.
A primeira mesa do evento, Retratos das Periferias: desafios e possibilidades, abordou a imagem das periferias, os desafios desses territórios no cenário das desigualdades socioespaciais e as proposições de transformações sob duas ópticas: a da experiência institucional de Maria Alice Setubal à frente da Fundação Tide Setubal, que trabalha pelo desenvolvimento local sustentável do bairro da zona leste da capital paulista, e a vivência de Tony Marlon, jovem da periferia, criador da Escola de Notícias e idealizador do Historiorama. Na sequência, Mauricio Ernica, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e membro do conselho consultivo da Fundação Tide Setubal, trouxe ao debate um olhar sobre educação e desigualdade, mostrando que, apesar dos avanços e melhorias no sistema educacional, os benefícios chegam de forma diferente aos vários pontos da cidade.
Na segunda mesa, chamada Dados e Indicadores: onde a conta não fecha?, Eliana Souza e Silva, diretora da Redes da Maré e do Instituto Maria e João Aleixo, e Sérgio Leitão, fundador e diretor de relacionamento com a sociedade do Instituto Escolhas, falaram sobre o desafio desses territórios mais vulneráveis na busca pela qualidade dos equipamentos e dos serviços prestados. Além da abertura para a participação do público, a mesa contou com uma provocação do demógrafo, sócio da Din4mo e membro do conselho consultivo da Fundação Tide Setubal, Haroldo Torres, sobre dados e indicadores.
A avaliação do evento foi feita de maneira anônima e online e respondida por 20% dos participantes. A troca de visões e o contraste entre diferentes vivências, sobretudo na conversa entre Tony e Maria Alice, foram destacados como ponto alto do evento. O público também elogiou a iniciativa de contar com pessoas das periferias entre os palestrantes. Já sobre pontos que poderiam ser melhorados estavam: a falta de abordagem sobre empreendedorismo e a necessidade de ilustrar dados apresentados com exemplos mais concretos.